3 de dez. de 2011

Como alerta, vale esclarecer: este modelo de medidas de incentivo ao consumo e estímulo ao endividamento excessivo levou os EUA à bancarrota Devemos aprender com os erros alheios, repeti-los é estupidez!.

 Alerta  Vermelho, Brasil!


Valentina Latiffa
As medidas implantadas pelo Ministério da Fazenda para estimular a economia são, além de frágeis, de alto risco, principalmente para os brasileiros de classe média, já altamente endividada. Com raras exceções, o que se tem são repetições do malfadado Reintegra, que no frigir dos reais nada reintegrou, excluindo é claro a mais abjeta satisfação dos contumazes lobistas.

Alguns governos são mais vulneráveis a essas pressões; outros, mais insensíveis. O atual faz parte do primeiro grupo.

Tudo não passa de um arranjo imediatista e politiqueiro para atendimento dos exportadores, já tutelados de forma vergonhosa pelo Governo. Os ricos- mais ricos, e a tão cantada Classe C, que vive em média com  míseros 3.000 reais , para suprir alugueis, água, escolas, transportes,alimentação,etc..., descaradamente  ludibriada pelos apelos de descontos enganosos nas produtos de linhas brancas. O que resultará em múltiplos carnezinhos, prestações a perder de vista, cartões de créditos estourados, e fatalmente inadimplência geral e irrestrita.

O que o Brasil precisa  é da imediata redução da carga de impostos através de uma verdadeira reforma tributária, por uma década adiada. Urge cortar custos que incidem sobre as folhas salariais, definir e implementar investimentos sólidos e contínuos em infraestrutura que aumentem a eficiência logística do país. Finda-se o primeiro ano do governo Dilma e não há agenda de reformas no Congresso. O capital político do início do mandato foi queimado sem que se soubesse qual é o projeto do governo, sabido apenas que parte se destinou a cobrir gastos da campanha e os restos [sem demonstrativos claros e nada justificados] dos gastos de Lula.

Algumas medidas fazem sentido, como as reduções ou eliminação do IOF sobre investimento estrangeiro seja em ações seja em títulos públicos de longo prazo. Num período em que o mundo se aproxima do risco de um travamento global do crédito (Credit Crunch), nada melhor do que atraí-los para cá. Como as bolsas estão voláteis e com tendência negativa no mundo, não faz sentido taxar os investidores que escolham a Bovespa ou negócios com papéis de empresas brasileiras. É inteligente retirar o IOF de 6% sobre o capital estrangeiro que aceite comprar títulos públicos de quatro anos. Assim, o Brasil induz o alongamento da dívida e barra o capital que vem por pouco tempo apenas para fazer a arbitragem de juros.


Os juros já são altos demais no Brasil, os spreads bancários, abusivos, os impostos sobre intermediação financeira são excessivos. Tudo isso faz com que o Brasil tenha o dinheiro mais caro do mundo. Em algumas modalidades, como a do crédito rotativo do cartão de crédito, as taxas são exorbitantes e, por tal, perigosas. O Ministério da Fazenda e o Banco Central deveriam estimular as modalidades mais baratas de crédito e, aos poucos, ir desestimulando o endividamento já alastrado.

Como alerta, vale esclarecer: este modelo de medidas de incentivo ao consumo e estímulo ao endividamento excessivo levou os EUA à bancarrota.

Devemos aprender com os erros alheios, repeti-los é estupidez!

O ano que se aproxima deve ser o inverso de 2011, em que a economia entrou acelerada e foi perdendo fôlego. O país iria crescer 5% em 2011, na previsão feita por Mantega no começo do ano. O melhor cenário agora é de que termine em 3%. Em 2012 o país entrará com a economia mais fria e pode aumentar o ritmo ao longo do ano se a situação externa não se agravarainda mais. A inflação permanece -alta, acima do teto da meta.

A queda das taxas de juros pelo Banco Central e algumas das novas medidas ajudam a manter o crescimento num momento de crise externa profunda. Mas a solução que o País precisa é de reformas que surtam efeitos permanentes, em detrimento de meros remendos na politicas econômicas e financeiros.

E as contas do Governo?



Quem olha para as contas do governo chega a pelo menos três conclusões: os gastos continuam crescendo, a uma taxa acima do PIB; os investimentos, que já são baixos, caíram; a arrecadação disparou em todos os impostos. O novo governo registrou até outubro déficit nominal de 2,36% do PIB contando o que paga de juros para rolar a própria dívida, com R$ 79 bi no vermelho.

Ao contrário do que tem sido repetido frequentemente pelas autoridades, o governo não reduziu os gastos; o ajuste como sempre é feito pelo aumento de arrecadação. As despesas, de janeiro a outubro, cresceram 3% em termos reais — descontada a inflação — em relação ao turbinado ano de 2010. Sem descontar a inflação, a alta é de 9,9%. As contas são do economista Felipe Salto, da Tendências Consultoria, que desconsiderou dos gastos de 2010 a contabilidade criativa feita pelo governo durante a capitalização da Petrobras.

— A palavra corte é errada, o que o governo fez foi desacelerar o crescimento das despesas — explicou.

Nas palavras certas, o governo deixou de gastar parte do aumento da arrecadação, que disparou 13,1% de janeiro a outubro, saiu de R$ 715 bilhões para R$ 809 bi. Para encarar os números é preciso fôlego de leão, porque todos os impostos passaram a arrecadar muito mais: CSLL (24,1%); Outros Tributos (20,5%); Imposto de Importação (17,6%); Imposto de Renda (15,7%); Cide (15,1%); IPI (14%); IOF (13,1%); PIS/Pasep (9,1%); Cofins (7,9%); Receitas Previdenciárias (9,4%).

Engana-se quem pensa que o dinheiro extra no caixa do governo virou investimentos. O economista Rogério Werneck, da PUC-Rio, calculou que chegaremos ao final do ano com aumento da carga tributária de 1,5 pontos percentual. Em 2010, ela fechou em 35,13% do PIB, de acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. Isso quer dizer que, regra geral quatro meses de salário dos trabalhadores brasileiros, foram parar nos cofres dos governos.

Só um milagre poderá alterar o superávit primário no ano que vem. O que vale dizer: os gastos vão subir com a correção do salário mínimo, que terá impacto sobre os gastos da Previdência, Assistência Social e seguro-desemprego, e os incentivos fiscais de R$ 27 bilhões dados à indústria. O crescimento da receita deve desacelerar, com toda certeza.

O déficit nominal, que inclui o que o governo gastou com juros, está em 2,36% do PIB, ou R$ 79 bilhões. O ideal seria o governo buscar o equilíbrio das contas, ou seja, perseguir incansavelmente o déficit nominal zero, para que os juros possam ser reduzidos mais fortemente, como meio de defesa contra provável inflação.

A grande ilusão que paira no País é puro achismo, sem qualquer base de conhecimentos sobre economia, entendem os iludidos e incautos que as finanças públicas brasileiras saudáveis, porque comparadas com as  dos países-em crise.

Muitos acreditam que o País vai bem- obrigado, mas nossas contas continuam escarlates, e fecharão 2011 em escaldante vermelho.

6 comentários:

  1. Uma brilhante aula de economia e gestão politica.
    Sempre um aprendizado novo em seus artigos, grande Mestra Valentina!
    LR- RJ

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  2. Valentina,
    Como sempre, perfeito, estudo que vai a fundo,
    detalhado, minucioso, completo.
    Sim, uma brilhante aula de economia e de gestão
    política, como comentou LR-RJ.
    E a frase que sintetiza tudo:
    "Devemos aprender com os erros alheios,
    repeti-los é estupidez!"
    No mais, é voltar e voltar às suas palavras,
    sua análise profunda, e reler, reler, reler.
    Que as outras nações possam ver as coisas
    por estas plagas, conforme são realmente.
    Sem ilusões, a vida como de verdade é em terras brasileiras.
    Bjs,
    obrigada,
    Eliana Crivellari

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  3. Parabéns, querida.Saber como andam ss coisas por ai, via suas análises, é fonte segura de informação.
    Fico triste com a situação de governabilidade do Brasil, que vc. demonstra de forma sustentada e objetiva.
    Aqui, tempos de medo e cuidados.
    Saudades.
    Livia Abdala-Líbano

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  4. Excelente! Perfeito.
    Augusto Belizário-FGV

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  5. Valentina está entre os Grandes de Literacia. Salve Mestra!
    FELIZES OS QUE PODEM PRIVAR DE SEUS SABERES.
    Jorge Eduardo-RJ

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  6. De fato, a classe C, vive o arrocho mensal: o mês é maior que a renda familiar, e familias -muitas, estão perdidas ,sem saber o como administrar seus endividamentos.
    Quem pensa que 3.000 ou 5.000 reais dá para viver com folga, se engana. A vida no Brasil é cara, educar um filho é caríssimo, pagar prestações da casa pp. é um saque de quase metade de nossas rendas, o que sobra , só com muito malabarismo para SUPRIR nossas necessidades básicas.
    Sou engenheiro, e estou neste grupo, logo falo com dominio de causa.
    Parabéns pelo artigo.
    Luiz Eduardo Waisman-RJ

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