20 de nov. de 2011

Nada disso, porém interessa ao Planalto, e menos ainda aos Políticos – coniventes que são com os Chefes dessas Quadrilhas de Ruralistas, posto que são eles os donos dos cofres que bancam suas cátedras em Brasília.


EXTERMÍNIO INDÍGENA


Valentina Latiffa

PISTOLEIROS INVADEM ACAMPAMENTO E ASSASSINAM CACIQUE GUARANI-KAIOWÁ
Somos um País continental, nossa extensão territorial suficiente para abrigar todos os brasileiros, para comportar tanto os latifúndios [agrícolas e pecuários], mas principalmente bastante para assegurar o direito à terra de origem e do bem viver dos povos das matas, dos ribeirinhos e fundamentalmente dos indígenas – os primeiros habitantes desse Gigante eternamente adormecido.

Todavia o poder econômico, os garantimos concedidos aos “grileiros- travestidos de ruralistas” privilegiados pelo olho cego da justiça e pela omissão dos Governos, produzem e estimulam a ganância por mais e mais terras, ao preço de vidas humanas.  

Aqui se morre aqui se mata, seja pela invasão , seja pelo massacre sanguinário de comunidades inteiras, numa guerra continua, onde inocentes- marginalizados e desprotegidos pelos Poderes Constituídos, são abatidos cruelmente de norte a sul, de leste a oeste, nessa Pátria sem leis.

Ainda vivemos as mesmas barbáries históricas do tempo de nosso descobrimento: nossos irmãos das florestas, além do abandono absoluto no que tange a saúde, educação, são alvos fáceis dos Coronéis de Assassinas Capitanias.

Nada disso, porém interessa ao Planalto, e menos ainda aos Políticos – coniventes que são com os Chefes dessas Quadrilhas de Ruralistas, posto que são eles os donos dos cofres que bancam suas cátedras em Brasília.


Na manhã desta sexta-feira (18), Tonico Guarani-Kaiowá, membro do Aty Guasu, denunciou, por meio do Programa Kaiowá/Guarani da Universidade Católica Dom Bosco - UCDB, a massacre praticado no acampamento Tekoha Guaiviry, no município de Amambaí.

Por volta das 6h30 desta sexta, 42 pistoleiros mascarados e fortemente armados invadiram o acampamento e tiraram a vida do cacique Nísio Gomes, de 67 anos, morto com vários tiros de calibre 12 nos braços, pernas, peito e cabeça. Ao se retirarem da comunidade os pistoleiros levaram consigo o corpo do cacique.

De acordo com o kaiowá Valmir, filho de Nísio, uma mulher e uma criança também foram assassinados e seus corpos levados por uma caminhonete de cor cinza. Ao tentar apurar o fato, o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) recebeu informações de que, além dos assassinatos, dois jovens e uma criança haviam sido sequestrados, no entanto, ainda não há informações precisas já que a comunidade está apreensiva e abalada com o fato.

Alguns indígenas ainda permanecem no acampamento, mas a maior parte dos 60 Kaiowá Guarani da comunidade fugiu para o mato. Em sua denúncia ao programa da UCDB, Tonico afirmou que alguns pistoleiros ainda permanecem no local cercando o acampamento e impossibilitando o retorno dos que estão na mata.

Em entrevista ao Cimi, um indígena cujo nome foi mantido em sigilo por segurança, deixou claro que os Guarani-Kaiowá não vão abandonar o local. "O povo continua no acampamento, nós vamos morrer tudo aqui mesmo. Não vamos sair do nosso tekoha", afirmou. Lideranças do Aty Guasu Guarani e Kaiowá estão se organizando para voltar ao local do ataque.

O Ministério Público Federal (MPF), a Polícia Federal de Ponta Porã e a Fundação Nacional do Índio (Funai) já foram informadas sobre o caso.

Contexto

[Guaranis Kaiowá, Tekoha Guaiviry]

Desde o dia 1o. de novembro, os indígenas decidiram desmontar o acampamento onde viviam às margens de uma rodovia e ocupar uma parte do seu tekoha Kaiowá. O Território Indígena de ocupação tradicional da etnia está sob poder das fazendas Chimarrão, Querência Nativa e Ouro Verde. Cerca de duas semanas depois da retomada do território a comunidade começou a ser cercada.

Os ataques e assassinatos não são fatos novos para os indígenas do Mato Grosso do Sul. No dia 13 de agosto deste ano, indígenas Guarani Kaiowá do Território Indígena Pueblito Kuê, município de Iguatemi, que ocupavam uma área entre as fazendas Maringá e Santa Rita, tiveram seu acampamento destruído, pertences queimados e sua comida roubada por homens encapuzados. Apesar disso, os indígenas não saíram do local, reivindicado como terra tradicional, e afirmam que não sairão voluntariamente.

Os Guarani Kaiowá somam hoje cerca de 45 mil indígenas e ocupam pouco mais de 40 mil hectares. De acordo com levantamento do Conselho Indigenista, 98% da população indígena do estado vive em apenas 0,2% do território do Mato Grosso do Sul. A falta de terras é apontada como o principal desencadeador de situações de violência como homicídios e ataques a comunidades, além de problemas sociais como suicídio de jovens e altos índices de mortalidade infantil.

Nota Pública


[Vídeo de onde foi assassinado a liderança Kaiowa Guarani Nisio Gomes]

Governo Federal é o responsável por mais uma chacina de indígenas no Mato Grosso do Sul

“O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) vem a público responsabilizar a presidenta da República, Dilma Rousseff, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o presidente da Funai, Márcio Meira e o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli pela chacina praticada contra a comunidade Kaiowá Guarani do acampamento Tekoha Guaiviry, na manhã desta sexta-feira (18).

A comunidade foi atacada por pistoleiros fortemente armados. Segundo informações apuradas junto a indígenas que sobreviveram ao ataque, os pistoleiros executaram o cacique Nisio Gomes e levaram seu corpo. Os relatos ainda dão conta de indígenas feridos por balas de borracha e de três jovens baleados: dois estão desaparecidos e outro se encontra hospitalizado.

O governo da presidenta Dilma, perverso e aliado aos latifundiários criminosos de Mato Grosso do Sul, insiste em caminhar para o massacre e se encontra banhado em sangue indígena, camponês e quilombola. Tais acontecimentos colocam em dúvida a capacidade do Ministério da Justiça em coibir as violências, bem como de sua isenção quanto aos fatos, uma vez que as violências naquele Estado são sistemáticas e o ministro da Justiça não cumpre com suas responsabilidades em demarcar e proteger as terras indígenas.

Por outro lado, a Polícia Federal – submetida ao Ministério da Justiça - tampouco investiga os assassinatos dos indígenas. A impunidade recarrega periodicamente as armas de grosso calibre e joga sobre as ações dos pistoleiros e seus mandantes o manto de um Estado cada vez mais esfacelado, ausente, inoperante e inútil aos mais necessitados. A Polícia Federal precisa, conforme é de sua incumbência, investigar exaustivamente o crime, proteger a comunidade e apresentar os criminosos.

Já Dilma Rousseff precisa responder por mais esse ataque. Basta! É hora de alguém ser responsabilizado por esta barbárie e completo ataque aos direitos constitucionais e humanos no Mato Grosso do Sul. O Poder Executivo tem sido omisso, negligente e subserviente. Com isso, promove e legitima as práticas de violências. O ministro da Justiça recebe latifundiários, mas não cobra Márcio Meira, presidente da Funai, sobre o andamento do processo de identificação e demarcação das terras indígenas que desde 2008 caminha de forma lenta – enquanto a morte chega cada vez mais rápida aos acampamentos indígenas.  

Por fim, ressalta-se que as comunidades acampadas no Mato Grosso do Sul estão unidas contra mais este massacre, numa demonstração de profundo compromisso e firme decisão de chegar aos territórios tradicionais. Indígenas de todo o Estado se dirigiram ao acampamento tão logo souberam do covarde ataque. Na última quarta-feira, inclusive, estiveram lá para prestar solidariedade aos Kaiowá Guarani que retomaram um pequeno pedaço de terra mesmo sob risco de ataque – o que aconteceu, mas sem maiores repercussões.”


[Com informações do CIMI.]

3 comentários:

  1. Parabéns Valentina, que Literacia seja a Voz dos oprimidos, dos marginalizados: sempre!
    o que VC. O FAZ COM MAESTRIA!
    Luiza Barcellos-RJ

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  2. Valentina,
    Eles morrem, e nossos corações sangram.
    Cicatrizes que ficarão para sempre em nós.
    Dói ainda mais saber que o sofrimento a essas comunidades imposto é tanto e tamanho, que há jovens suicidas entre eles, melhor, entre nós,
    pois estamos todos entrelaçados.
    Ao se deixarem levar por ambição, vaidade, ganância e egoísmo, os políticos brasileiros vêm
    permitindo um rastro de dor insuportável, inenarrável - páginas de nossa história contemporânea que mais se parecem com a selvageria da época do descobrimento do país.
    "Brava gente, brasileira
    Longe vá temor servil
    Ou ficar a Pátria livre
    Ou morrer pelo Brasil"
    Não,ainda não somos livres.
    O Hino da Independência ainda não pode
    ser cantado de verdade e com fé.
    Não, enquanto se perpetuam Lições do Abismo
    nesta nação.
    Obrigada por suas palavras, por sua denúncia grave, e tão necessária, e tão bem feita,
    detalhadamente perfeita.
    Até quando, até quando?
    Continue, minha querida,
    "ou ficar a Pátria livre
    ou morrer pelo Brasil"
    E que um dia possamos entoar alto e bom som
    o Hino da Independência...que tarda, mas
    virá - é a grande esperança.
    Bjs,
    Eliana Crivellari - BH - MG

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  3. Deveras chocada com a insustentável leveza das "consciências" do Planalto e de políticos coniventes, verifico, uma vez mais, que o sangue de um Povo mártir que luta, há tanto tempo, pela terra que lhe pertence, não perturba, minimamente, o sono tranquilo dos monstros. Até quando?! Até quando esta impunidade assassina que "recarrega periodicamente as armas de grosso calibre"?!...
    Em pensamento e oração, estou junto das comunidades acampadas no Mato Grosso do Sul. Um abraço solidário para esse Povo tão corajoso e sofrido! Um abraço também para si, Valentina. Denunciar a barbárie é preciso.

    Maria João Oliveira

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